sexta-feira, 7 de maio de 2010
O empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP), foi indiciado nesta sexta-feira (7) pela Polícia Federal pelo crime de evasão de divisas.Ele prestou depoimento, em São Luís, e não respondeu a nenhuma pergunta.
No ano passado, Fernando Sarney foi indiciado em três inquéritos por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, falsidade ideológica e gestão irregular de instituição financeira. A defesa do empresário nega todas as acusações.
A Polícia Federal investiga uma suposta operação simulada de comércio exterior que envolve o empresário, conforme divulgou o jornal “Folha de S.Paulo”, no dia 26 de março. A suposta operação tinha como objetivo a remessa ilegal de recursos para fora do país.
De acordo com a reportagem, a investigação é um desdobramento da operação Faktor (ex-Boi Barrica), da Polícia Federal, que apura a existência de contas do empresário em outros países.
O suposto esquema irregular de envio de recursos ao exterior simulava uma operação de comércio exterior com empresas brasileiras e chinesas de fachada. Uma empresa brasileira simulava a compra de produtos chineses. O contrato era registrado no Banco Central para o envio de dólares para a conta da empresa exportadora na China, mas a mercadoria nunca era enviada ao Brasil.
A reportagem disse ainda que policiais de São Paulo e fiscais já haviam identificado, no ano passado, um grupo de 40 empresas que poderiam usar do mesmo artifício para remeter dinheiro ilegalmente para o exterior, num total que pode ter sido superior a US$ 800 milhões entre 2005 e 2008.
- - - - - - - - - - - - - Parte 2
O secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, disse nesta sexta-feira (7), em entrevista exclusiva ao G1, que não vai deixar o cargo devido a sua ligação com o suposto chefe da máfia chinesa de São Paulo, Li Kwok Kwen, conhecido como Paulo Li. "Tirem o cavalo da chuva. Não vou sair", afirmou.
Reportagem publicada na quarta-feira (5) pelo jornal "Estado de S.Paulo" revelou gravações telefônicas e e-mails entre Tuma Júnior e Paulo Li interceptados pela Polícia Federal durante investigação sobre contrabando. Paulo Li foi denunciado pelo Ministério Público Federal no fim do ano passado por formação de quadrilha e descaminho (contrabando). Ele está preso.
O secretário admitiu ter amizade com Li, mas negou envolvimento com irregularidades. “É lógico que ele é meu amigo. Agora, que vantagem ele tem de ser meu amigo se ele está preso? Nenhuma. Não tem nada no Código Penal que diga que ter amigo é crime. O que não pode é acobertar atividade ilícita de qualquer um. E isso eu nunca fiz”, afirmou. Tuma Júnior disse conhecer Paulo Li há 20 anos e revelou ter ficado “abismado com as denúncias” envolvendo o amigo.
“Esse negócio de falsificar celular, confesso que fiquei muito chateado. Abismado. Não vou dizer que é mentira. Porque se está nos autos deve ser verdade. Agora, é uma coisa que eu jamais desconfiei. Não acredito que ele fizesse até. Porque conheço o cara há 20 anos. E eu não posso negar, nem que isso deponha contra mim, porque eu sou policial e eu tinha pelo menos que ter desconfiado. Se não desconfiei, é porque ele não fazia ou fazia muito recentemente. Porque não dá para andar com um cara que é bandido e não saber. Isso eu nunca desmenti”, afirmou.Ao ser preso em setembro de 2009 na operação Wei Jin, da Polícia Federal, Paulo Li teria telefonado para Romeu Tuma Júnior na frente dos agentes que cumpriam o mandado. Dias após a prisão, Tuma Júnior teria ligado para a Superintendência da PF em São Paulo, onde corria a investigação, e pediu para ser ouvido. O depoimento teria ocorrido em um sábado e o secretário teria alegado que não sabia de atividades ilegais de Li.
Sobre a ligação que recebeu de Li no dia em que foi preso pela Polícia Federal, Tuma Júnior contou que estava em um hotel no Rio de Janeiro junto com o então ministro da Justiça, Tarso Genro, e com o diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa.
“Estou no hotel dormindo. Seis da manhã toca o meu telefone. O Paulinho [Paulo Li]: ‘Doutor Romeu, onde você está? Tem gente batendo na minha porta e tão falando que são da Polícia Federal e eu não sei o que eu faço’. Aí eu disse: ‘Confirma se é. Vê se tem mandado, vê a carteira. Você deve alguma coisa?’ Ele me disse que não. E eu disse: ‘Então abre a porta’”, relatou Tuma Júnior.
Segundo o secretário, “imediatamente” ele chamou Tarso Genro e o diretor da PF para conversar sobre a presença de agentes federais na casa do amigo. “Conversei com o ministro e falei com o diretor e disse: ‘Tem policiais na casa de um cara que é do meu relacionamento. Quero deixar claro: se o cara cometeu irregularidade, não quero saber. Agora, cuidado. Não façam exploração política. Ele tem foto com o presidente, tem foto com o ministro, tem foto comigo porque ele é um cara de ‘colônia’ [chinesa em São Paulo]. Agora eu preciso saber o que é porque ele está sendo ameaçado. Esse cara estava ameaçado de morte.”
Tuma Júnior disse ser uma rotina do seu cargo receber ligações de líderes de comunidades estrangeiras interessados em processos de visto de permanência no país. “Na minha função atendo a todos os estrangeiros. Então, todos os líderes de colônia que me procuram eu vou atender. Não é o Paulo Li. O líder da ‘colônia’ boliviana também é atendido todo dia aqui.” Mercadorias apreendidas
Tuma Júnior também negou as denúncias sobre a suposta atuação para liberar mercadorias apreendidas de outro chinês, Fang Ze, apontado pela PF como contrabandista, segundo reportagem publicada nesta sexta pelo jornal “Estado de S. Paulo”. Ze integraria a máfia chinesa em São Paulo.
Tuma Júnior reclamou da suposta publicação “incompleta” dos áudios interceptados pela Polícia Federal e afirmou que não estava atuando para liberar mercadorias, mas para investigar uma suposta tentativa de extorsão. “Não tem mercadoria nenhuma. Eram livros fiscais de um amigo meu que foram na firma dele para fazer fiscalização, e o fiscal levou os livros e ficou achacando o cara”, relatou.
O secretário disse que o suposto funcionário teria pedido R$ 30 mil para liberar os livros e que ele só agiu no caso para não “prevaricar”. “Qual é a minha obrigação para não prevaricar? Ir lá e avisar o chefe do cara. Agora, o que é que sai [publicado no jornal] é que era mercadoria. Não era mercadoria, era livro fiscal. Era só divulgar a escuta inteira”, declarou.
‘Interesse eleitoral’
Ele atacou as reportagens publicadas sobre o caso e disse que as denúncias têm “interesse eleitoral”. Tuma Júnior afirmou que vai “processar quem o calunia” porque “se sente injustiçado”. “Não vou entrar com ação para impedir divulgação. Prefiro ser injustiçado a ver a imprensa calada. Me sinto injustiçado. Já tenho advogado, vou procurar meus direitos e vou processar aqueles que me caluniam. Não tenha a menor dúvida”, afirmou.
O secretário nacional de Justiça disse que nunca foi denunciado por suposta participação nos casos investigados pela Polícia Federal. Também afirma nunca ter sido procurado pelo jornal o “Estado de S. Paulo” para se pronunciar sobre o caso.
“Me amargura ver que pessoas irresponsáveis estão colocando no jornal coisas que estão arquivadas. Eu fui averiguado e fui investigado. Não fui indiciado, não fui denunciado e não fui processado. O delegado chegou à conclusão de que não cometi crime. O promotor concluiu que não tinha elementos para me denunciar porque eu não cometi crime. O juiz mandou arquivar isso”, argumentou. “Eu to me defendendo do quê, se a Justiça, a polícia e o Ministério Público falaram: ‘Esse cara não deve’?”. Estou respondendo a um inquérito do [jornal] ‘Estado de S. Paulo’, que tem objetivo político, antirrepublicano, inconfessável”, declarou.
Procurado pelo G1, o jornal “Estado de S. Paulo” informou que não iria comentar as declarações de Tuma Júnior.
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