Resíduos no Brasil

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Na série especial sobre a ameaça ambiental do lixo, que o Jornal Nacional está exibindo esta semana, a gente viu como alguns países estão fazendo para reaproveitar os resíduos. Mas, aqui no Brasil, faltam lugares adequados pra depositar esses rejeitos.

O repórter Paulo Renato Soares mostra a diferença enorme que existe entre um aterro sanitário decente e um lixão comum das nossas cidades.

Botar o lixo pra fora de casa é uma tarefa tão corriqueira que nem perguntamos o que acontece depois. “Para onde vai, eu não sei”.

A montanha de lixo gerada todos os dias tem que ir pra algum lugar. E é aí que começa um grande problema. A maioria das cidades brasileiras não trata de maneira adequada os resíduos gerados pela população.

Segundo o último censo do IBGE, feito no ano 2000, em 64% dos municípios tudo é jogado em terrenos que não passam por nenhum tipo de controle: os lixões.

Acumulado a céu aberto, o lixo contamina o solo e também a água e pode provocar problemas de saúde até em populações que vivem longe dessas áreas. E mesmo depois que deixam de ser usados, os lixões representam riscos e podem acabar em tragédias.

A favela no Morro do Bumba, em Niterói, que desmoronou por causa das chuvas no início de abril, tinha sido erguida na área de um lixão abandonado.

“O lixão é um local em que não tem um sistema de controle do que entra lá, podem entrar resíduos perigosos, podem entrar resíduos radiotivos, etc”.

Cuidar do lixo é um desafio enorme. Apenas 14% dos municípios brasileiros têm aterro sanitário, que não tem nada a ver com os lixões.

Em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a operação começou há sete anos e é responsabilidade de uma empresa privada que ganhou a concessão por 20 anos.

O que acontece no local é uma obra de engenharia. Antes de receber o lixo, o terreno passa por uma rigorosa preparação. Um tipo de plástico muito resistente cobre o lugar para proteger o solo e as águas subterrâneas.

Em seguida, um sistema de drenagem é instalado para captar líquidos e gases gerados na decomposição.

O lixo é depositado em camadas, sempre intercalando com argila. Quando atinge uma determinada altura, o terreno não pode mais ser usado.

O morro que se formou recebe outra manta plástica para impedir que a água da chuva espalhe os resíduos. Por fim, a área recebe uma vegetação.

O lixo bem cuidado, armazenado em condições que não agridem o meio ambiente, é questão fundamental de saúde pública, mas tem outros benefícios.

O que não pode ser mais reaproveitado nem reciclado não precisa ficar enterrado e esquecido. Aterros sanitários também têm um grande potencial econômico.

O chorume, esse líquido escuro e poluente que sai do lixo, vira água limpa de novo ao passar por um sistema complexo de filtragem. Só não pode ser usada para beber.

Em São Paulo, uma usina termelétrica aproveita os gases gerados na decomposição dos resíduos de dois aterros para produzir energia suficiente para o consumo de 800 mil pessoas.

Mas para o pesquisador ambiental, é preciso investir em outras tecnologias. Segundo o professor, os aterros sanitários ocupam áreas muito grandes e requerem monitoramento por muitos anos depois de serem usados.

“Não sei se os novos contratos feitos aqui no Brasil , o pessoal está atentando pra isso: pra guardar dinheiro pra monitorar um aterro sanitário fechado que pode durar 50 ou mais anos, precisando de cuidados, precisando de atenção. E esse custo tem que ser pago pela sociedade que criou aquele lixo e não pela sociedade futura” , disse Cláudio Mahler, pesquisador de questões ambientais da Coppe .

Na maior parte do Brasil, a preocupação ainda é com o básico. Lixo fora do lugar pode até matar.

O investimento em tratamento de resíduos não é só uma questão de Saneamento como se diz, é uma questão de Saúde Pública.

Entre as doenças relacionadas ao lixo doméstico, destaca-se:
Cisticercose
Cólera
Disenteria
Febre tifoide
Filariose
Giardíase
Leishmaniose
Leptospirose
Peste bubônica
Salmonelose
Toxoplasmose
Tracoma
Triquinose
e mais outras nove.

Segundo o IBGE:

Investigando-se as internações motivadas por um grupo de doenças – agrupadas pela Fiocruz – relacionadas à falta de saneamento, como diarréias, hepatite A, febres entéricas e dengue, verifica-se que, no Brasil, em 1993 ocorreram 730 internações por cem mil habitantes, enquanto em 2002, houve 375 internações. Rondônia (1.200) e Piauí (1.198) tinham, em 2002, a pior situação, enquanto São Paulo (105) e Distrito Federal (120) tinham os melhores quadros gerais. O IDS também retrata a Oferta de Serviços Básicos de Saúde, através do número de leitos hospitalares, estabelecimentos de Saúde e postos de trabalho médico por mil habitantes, para as Grandes Regiões e Unidades da Federação.

Ainda na área social, outro indicador importante é Adequação de moradia, retratando o número de domicílios que tenham, simultaneamente, densidade de até dois moradores por dormitório, coleta de lixo direta ou indireta por serviço de limpeza, abastecimento de água por rede geral e esgotamento sanitário por rede coletora ou fossa séptica. Tais números melhoraram significativamente de 1992 (36,8%) para 2002 (50,6%), mas quase a metade dos domicílios do País não se enquadram nos critérios de adequação. Tocantins (14,3%) tem o percentual mais baixo e o Distrito Federal (69,9%) o mais alto.

0 Comments: