A pluralidade do carnaval baiano - Parte II

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Doralice de Souza, de 45 anos, moradora do bairro Fazenda de Coutos, na região suburbana de Salvador, aguardava sob sol quente o começo do desfile do bloco Papa, comandado por Claudia Leitte, nesta segunda (15).

Nas proximidades do farol da Barra, onde começa o circuito Dodô, que vai até o bairro de Ondina, a doméstica contou que este é o quarto ano que trabalha como cordeira (nome dado para as pessoas responsáveis por segurar a corda que separa os foliões do bloco dos foliões pipoca, ou seja, aqueles que não estão com o abadá).

Mesmo diante do trabalho árduo que nunca dura menos do que seis horas, no qual fica exposta a empurrões e muitas vezes até socos dos dois lados da corda, como ela revelou ter acontecido neste domingo (14), Doralice afirmou que tem o que comemorar.
- Neste ano, estão pagando R$ 30. No ano passado, era só R$ 27.

O R7 perguntou a Doralice por que faz um trabalho tão penoso, sujeita à violência e debaixo de sol escaldante. Ela respondeu:
- Isso é a precisão, meu filho. Preciso desse dinheirinho que ganho no
Carnaval para inteirar o que já juntei e comprar uma televisão.

Doralice afirmou que tem renda familiar de R$ 170. Também cordeira, Cristina Fernandes, de 50 anos, não comemora o aumento de R$ 3 na remuneração. Ela acha que o valor ainda é pouco para o trabalho de cordeira e sugere:


- Eles podiam pagar pelo menos uns R$ 40, né?
A vendedora de cosméticos Lucilene Soares, de 27 anos, é cordeira pelo oitavo ano consecutivo. Neste ano, estreia como cordeira do bloco de Ivete, cantora da qual é fã. - Eles pagam R$ 31, incluindo a passagem. Eu sei que o dinheiro é pouco, mas eu preciso muito. Por isso estou aqui. Para não machucar as mãos, ela usa luvas, cedidas pelo contratante. Adriano Santos, 21 anos, é cordeiro pela segunda vez e afirma que pensa em abandonar a árdua profissão na folia.
- O trabalho é duro. Acho que não quero mais fazer isso no ano que vem. Cordeiro pela terceira vez, o padeiro Antonio Santos, de 23 anos, tenta se divertir enquanto trabalha, mas não pode deixar os foliões chegarem muito perto do trio elétrico, para evitar que acidentes ocorram. Entre uma chamada de atenção e outra, arrisca passos de axé. - Eu gosto do Carnaval e, baiano que é baiano não pode perder a alegria.

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